Hobby ‘delícia’: Zootecnista produz cerveja artesanal no quintal da casa
Seja para comemorar, seja para relaxar, brasileiro gosta mesmo é de uma boa cerveja. É a número um, nessas horas. Aliás, o mercado brasileiro não é só um bom consumidor, mas também produtor de destaque: está entre os maiores fabricantes mundiais da bebida que a maioria aprecia ‘trincando’ de gelada.
Há inúmeras marcas comerciais à disposição, no entanto a busca por novidade em paladares intensificou, de uns dez anos para cá, o interesse pelas artesanais e, no rastro disso, provocou o surgimento de um hobby: a cervejaria de quintal, que virou febre e atingiu, em cheio, o zootecnista da Universidade Estadual de Maringá, Max Rickli.
Ele, que atua nos setores de pesquisa e extensão do Câmpus de Umuarama e mora na cidade há 20 anos, investiu o equivalente a cinco mil reais para desfrutar do prazer de produzir a ‘própria cerveja’, em casa. Começou em 2015 e não parou mais. Numa dessas tardes de dezembro bem quentes, recebeu a equipe de OBemdito para mostrar seu cantinho da alegria, o que ‘rouba’ do espaço da churrasqueira para fazer a bebida do colarinho branco.
Com suas panelas enormes, dotadas de termômetros, Max costuma se concentrar na tarefa pelo menos uma vez por mês, quando ‘fabrica’ cerca de 50 litros. “São pelo menos oito horas de sossego, tempo que me desconecto dos problemas cotidianos; sinto que meus hormônios da felicidade vão ao nível máximo, me proporcionando alívio de todo estresse acumulado! Encaro como uma diversão!”, descreve, com gestos faciais denotando a paixão pelo hobby.
“Ainda é hobby, mas pretendo futuramente transformar meus conhecimentos em negócio”, avisa. E já tem até a marca registrada em órgão federal. Para batizá-la, aproveitou seu sobrenome [que já é uma marca pronta, diga-se de passagem] e surgiu, então, a ‘Beer Rickli’. Por enquanto, tudo o que produz, brinda com os amigos nos bate papos.
Como é pesquisador da área [ele é doutor em biotecnologia aplicada à agricultura], diz que a intenção é aprender para ensinar, incentivando as pessoas a fazer. “Assim como fazemos o churrasco, por que não, também, a cerveja?”, questiona. E assegura: “Não é difícil… basta querer”. Em projetos de extensão da UEM ele tem cumprido essa missão: “Fico feliz porque muitos aprenderam e estão empreendendo no setor”.
Já até foi criada uma entidade para representar a classe: a Associação dos Cervejeiros Artesanais de Umuarama, com mais de 30 integrantes. Max é o vice-presidente.
Com criatividade e sem desperdício
Nesta fase de experimentos, Max considera-se bem-sucedido, por ter alcançado uma bebida de excelente qualidade. Ele tem várias receitas, porém não segue nenhuma à risca, porque gosta de inovar, gosta de dar seu toque para criar sabores diferentes.
“Isso é o melhor de todo o processo, poder usar a criatividade, poder ‘brincar’ com os sabores e aromas; às vezes faço mais clara, às vezes mais escura; com malte torrado ou não torrado; mais encorpada ou menos… Tudo para que, no final, eu possa tomar uma cerveja do jeito que eu quero, a que vai satisfazer meu gosto pessoal”, justifica.
Segundo ele, essa certeza de que se trata de uma bebida feita só com ingredientes de boa qualidade melhora, e muito, a experiência da degustação. “Sei que estou bebendo uma cerveja fresca, sem conservantes, feita com todo cuidado e capricho”, exclama.
Outro esmero do Max: não jogar fora o resíduo sólido da produção ou o bagaço do malte, que é rico em fibras e nutrientes; ele separa e depois leva para vacas leiteiras do Colégio Agrícola de Umuarama. Bom pra elas, bom para o meio ambiente.
Um pé de lúpulo no quintal!
Quanto aos insumos, Max é criterioso: “Só uso produto de primeira”. Costuma usar lúpulo importado [entre os melhores estão os da Alemanha, Estados Unidos e Nova Zelândia] ou o que está cultivando no jardim – onde exibe um pé viçoso. A planta é responsável pelas resinas e óleos essenciais que conferem o sabor amargo da cerveja.
Para nós de OBemdito, o zootecnista apresentou quatro sabores [um deles com essência de manga], mantidos em barris de alumínio que ficam dentro do seu frízer adaptado, com torneiras. “Basta abrir a torneira e se servir”, convida, lembrando que o ritual mexe com nossos cinco sentidos.
“Com a visão observamos a beleza da cerveja, sua espuma, sua cor, suas borbulhinhas; tato, olfato e paladar, nem precisa explicar… todos emitem prazeres indiscutíveis; e a audição fica por conta do abrir a torneira, daquele barulhinho delicioso quando a bebida sai do barril e cai no copo… É puro deleite!”
E aí, a cerveja faz bem ou faz mal?
Como um cervejeiro que se orgulha de sê-lo, daqueles que as pupilas viram coraçãozinhos quando toca no assunto, Max defende a ‘gelada’ como uma bebida “do bem”. Pouco se fala nisso, mas a cerveja tem uma série de benefícios para a saúde. Max atenta para o fato, sem descuidar do alerta “desde que se beba com moderação”.
“Não exagerando, a cerveja vai só fazer bem, e não mal”, observa. E reafirma: “Estudos científicos já confirmaram que cerveja é um bom alimento, porque contém vitaminas, minerais, carboidratos, polifenóis [que são poderosos antioxidantes], probióticos e tantas outras substâncias que, juntas, ajudam na prevenção de diversas doenças”.
No entanto, sempre é bom lembrar que a gelada tem suas fontes calóricas – açúcares e outros carboidratos – e que por isso deve ser consumida com moderação. Importante salientar também que se trata de uma bebida alcoólica e, como sabemos, em excesso compromete as atividades do sistema nervoso.